O dia zero de cada Monte Velho começa no início do ciclo vegetativo. Os primeiros dias de Primavera trazem o entusiasmo e a esperança de ver a vinha a abrolhar. A partir daqui, é preciso acompanhá-la de perto até ao momento da vindima – a altura mais importante e especial do ano para Sandra Alves, directora de enologia do Esporão, no Alentejo. Há 20 anos nesta casa, cada colheita é única e um verdadeiro desafio. Principalmente, no que toca à produção de Monte Velho. “Ainda estava na faculdade a estudar enologia e o Monte Velho já era um vinho de referência. Estava longe de imaginar que um dia seria uma das responsáveis pela sua produção. É um grande desafio enquanto enóloga a exigência de qualidade ano após ano”.
Os dias que antecedem a vindima são determinantes para marcar o ritmo da colheita. Todos os dias, a equipa de enologia e a equipa agrícola, reúnem-se para afinar detalhes. No caso de Monte Velho, além da gestão das vinhas da Herdade do Esporão, há um acompanhamento da maturação das uvas dos vários parceiros com que o Esporão trabalha um pouco por todo o Alentejo. “Alguns viticultores trabalham connosco há quase tanto tempo, quanto os anos de existência do Monte Velho. Foram crescendo connosco alinhados com a nossa filosofia e modos de produção agrícola – hoje estão todos certificados em modo de produção integrada ou biológica. Estamos em contacto diário com todos. É preciso um acompanhamento rigoroso do potencial das vinhas e da maturação das uvas, para determinarmos a colheita no tempo certo”.
E quando o tempo certo chega, começa o frenesim na Herdade do Esporão. Todas as manhãs é decidida a agenda do dia. As senhoras vão, a pares, preenchendo cada linha do talhão que está pronto a ser vindimado. Na recepção das adegas não há mãos a medir – a qualidade da uva é novamente verificada e consolidada. A adega é mais do que nunca, o lugar onde tudo acontece. “Desde a recepção, processo de fermentação, prensagem, pré-estágio e maturação, importa estarmos atentos a todos os pormenores até o vinho chegar ao consumidor”.
À medida que os dias passam, na sala de prova, os copos em cima da bancada vão-se multiplicando. É o resultado em bruto de cada dia de trabalho. Vinhos de vinhas e castas distintas, em diferentes fases de fermentação. “Nesta prova começamos a identificar e definir as diferentes personalidades da colheita. Para nós, enologia, é um momento diário de grande concentração, onde são tomadas as mais importantes decisões, que determinam o futuro de cada vinho”. Podemos olhar para estes copos como um puzzle. Ao longo do tempo, as peças vão-se juntando. Algures aqui, na cabeça da enóloga, já se começa a desenhar o Monte Velho.
Desta prova matinal, sai a lista de tarefas para os trabalhos na adega Monte Velho. Renovada em 2018, foi pensada à medida deste vinho. A experiência e o conhecimento acumulados ao longo de três décadas, resultaram numa adega equipada com tecnologia avançada e adaptada exclusivamente à produção de Monte Velho. “A criação desta adega foi um investimento na flexibilidade e eficiência produtivas – permitiu a colheita das uvas no estado de maturação ideal, aumentar o detalhe no acompanhamento das fermentações, dando resposta ao crescimento presente e futuro e mantendo sempre como principal objectivo a qualidade e autenticidade do vinho.”
Terminada a vindima, a azáfama dá lugar a um certo silêncio que abre espaço para que o vinho cresça e evolua. “Continuamos a ter muito trabalho pela frente, mas há que deixar o tempo fazer a sua parte na evolução do vinho. Depois, voltamos a fazer as provas necessárias, até chegarmos ao resultado final. O momento em que o puzzle fica completo”.
O Monte Velho é um vinho feito com detalhe para que seja garantida a consistência, a qualidade e a confiança que ganhou ao longo dos anos. Respeitando as características únicas que cada ano de colheita lhe impõe, ainda assim é crucial manter o seu perfil e cumprir as expectativas das pessoas que o consomem há quase 30 anos. “Não consigo quantificar quantas horas, dias ou semanas são passados a delinear o Monte Velho. A quantidade de pessoas, de mãos e de pensamentos que são dirigidos na produção deste vinho, é impossível de contabilizar. Uma grande parte do nosso ano é alocada a pensar, experimentar, trabalhar e a concretizar estes detalhes que levam à produção do Monte Velho”.
O seu sucesso é fruto de um longo caminho percorrido, que levou este vinho ao lugar que ocupa actualmente – líder do mercado e um dos vinhos preferidos dos portugueses. O seu crescimento foi acompanhado pela evolução do próprio Esporão, que procurou estar sempre à altura dos desafios. E o Monte Velho será sempre um dos seus maiores desafios. “São 30 anos de história. O tempo trouxe-nos uma experiência que facilita o processo, mas não lhe tira a responsabilidade e não o limita. É um vinho feito com seriedade e nas melhores condições possíveis. Tanto para o tinto, para o branco como para o rosé, procuramos um perfil intenso, fresco e fundamentalmente, que retrate o melhor do Alentejo”.